segunda-feira, 25 de julho de 2011

Produções de cordel na Oficina de Escrita Criativa

Durante o período de dois meses e meio, a profª. Cíntia Ramires ofereceu aos participantes da Oficina de Escrita Criativa  instrumentos essenciais a composição de textos cordelísticos. Abordando a origem, a importância cultural e a chegada dessa prática literária ao Brasil, pôde mostrar que para escrever cordel não é necessário ser um graduado em Literatura ou ser um escritor profissional, basta apreciar a essência da poesia e ter uma história instigante para contar. “A experiência com os participantes foi muito satisfatória. Além de conseguirem apreender as informações e as principais características estruturais do cordel como métrica, rima, a essência simultânea de narrativa e poesia, suas experiências de vida deram um toque todo especial nessa produção literária popular, já que para o cordel ser interessante deve ser criativo, ou seja, o autor tem que ser original para desenvolver o tema; e deve ter empatia, quanto mais pessoas se identificarem com o cordel, mais cativante ele será”, afirma. Seguem as produções feitas pelos participantes da oficina:

Sinhô Cordel
Gilberto Hernandes Moraes

Na escrita criativa
Deparei-me com o cordel,
Modalidade literária
Que ultrapassa o meu papel,
Entre o repente e a escrita
Colhe as palavras ao léu.

Na oficina eu aprendi
Que o cordel tem vários temas:
Descritivos, narrativos...
Improvisar é o dilema,
Os fictícios são inventados
E os reais não são cinema.

Esse poema tem versos
E juntos formam a estrofe
Tem forma igual ao bolo,
Mas não é de se comer;
Tem medida que nem régua,
Mas traços não se deve fazer...
É pura literatura,
mais doce que rapadura,
é gostoso de se ler.

Literatura de cordel
É pura sedução,
Com as aulas terminando
Fiquei  com a sensação
De conhecer o sertão todo
Sem tirar os pés do chão.

É cultura nordestina
Que veio pra ficar
Pendurada num barbante
Veio a todos conquistar
Vocês sabem o nome disso?
Literatura popular.



Fé do caboclo

 Marlon Prado Mendes

Em dias como todos
Veio a necessidade
De expandir a visão
Dos bloqueios da cidade,
De buscar a essência
E saber das verdades.

Pelo certo, eu roubei
A carta de alforria,
Mesmo sem nenhum vintém
Em uma euforia,
Sabia da mentira
Que a mim não cabia.

Entreguei-me, confiante
Está em qualquer lugar
A vida não tem metas
Pensamentos podem voar...
Quantas vezes errei,
Muitas vezes posso errar.

Da estrada um trecho
Para a uma reflexão...
A vida: - Um segredo
È mistério sem refrão!
Ser feliz grande busca
De viver sem ilusão.

A viagem é interior
Terra deu. Terra come.
Desigualdade é grande.
Quantos não passam fome?
Poucos são os ricos
E um bocado de pobres.

O respeito há de ter
Diferenças respeitadas,
O saber transmitido
Das culturas diferenciadas.
Viver é aventura
E a morte inesperada.

Mundo grande é esse
A volta que não pára
Rumando para a luz
Lançado sobre a Gaia
Onde estamos agora
Nessa grande jornada.


As aves de Gonzaga


Fábio Antônio Gomes
Marlon Mendes Prado
Gilberto Hernandes Moraes
Maria Eunice Ferraz da Silva



Meu amigo juazeiro
Me contou um outro dia
Uma história interessante
Que trouxe sabedoria
E agregou experiência
A muita gente que sofria.

Duas aves se encontraram
Na pracinha da cidade,
Famosa Melo Peixoto
Onde há diversidade
De histórias fictícias
Com muita seriedade.

Assum preto era cego,
Asa branca era esperto,
Se encontraram no sofrer
Formando mais um verso
Querem ser felizes
fraudar o destino perverso.

Como muitos sertanejos
Deixaram o sertão
Pois a seca era brava
E viver uma ilusão,
A tristeza pelo mundo
Devastou o coração.

Fugindo daquela seca
Encontrou-se co’Assum preto
E assim o questionou:
- O que faz aqui amigo
Se fugindo da seca
Maldita eu estou?

- Me encontrei aqui sem rumo,
Meu destino é cantar...
Não posso escolher como tu
Por onde  eu quero andar!
Você é mesmo feliz
Neste longo caminhar?

 - Da seca eu quis fugir,
Mas não sei onde chegar...
Será que é melhor não  ter
Uma sina a alcançar
Ou viver assim como tu
Intensamente a cantar?
Assum preto respondeu:
- Não tive alguma opção!
É tão triste estar longe
E buscar a solução,
 Mesmo cego sem destino
Eu queria o meu sertão

_ Assum preto, como não voa?
Não enxerga, mas encanta
Eu viajo pelo mundo
Parei  até em Terra Santa
Só feliz eu não fui
Mas reclamar não adianta.....

Foram pro sul e leste
De nada adiantou
No norte e oeste
Essa história concretizou
Sofrer é necessário
Pra quem viveu ou quem amou.



O sonhador
Maria Eunice Ferraz da Silva[1]

Trabalhava lá na roça
Na caatinga do sertão,
Fome e sede já senti
Como é duro, meu irmão...

Aos dez anos eu já tinha
Calos nos pés e nas mãos,
Mas papai sempre dizia:
- Isso sim que era bom.

Trabalhei de sol a sol
Futuro não tive não.
Estudar que era bom
Papai não deixava não.

Aos vinte anos fugi
Triste seca do sertão...
Chegando em Ourinhos
Encontrei educação.

Essa terra de cultura
Conquistou meu coração!
Minha vida transformou...
Essa terra deixo não.






[1]Maria Eunice saiu do estado paranaense em busca de uma vida melhor e veio para Ourinhos, cidade que considera muito acolhedora. Sente-se muitas vezes como uma retirante e diz que aqui encontrou a água que faltava no seu sertão: participa de várias oficinas e cursos oferecidos pela Secretaria de Cultura, onde pode aperfeiçoar seu conhecimento cultural e realizar várias práticas artísticas, como a literária que gosta muito.